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O mito da caverna e o século XXI

A metáfora criada pelo filosofo grego Platão, nunca esteve tão atual. Há aproximadamente 400 anos a. C., alertou para os desdobramentos de uma vida em sociedade que era apresentada de forma alegórica. O seu mito revela a relação estabelecida pelos conceitos de escuridão e ignorância, luz e conhecimento, de maneira dialética.

A trama estabelece o conflito de um personagem que vivenciou um dilema ético. Aprisionado desde a infância, com correntes que o mantinha preso de frente a uma pequena parede em uma caverna, o protagonista e seus companheiros veem apenas o que é projetado pela fogueira atrás deles que permanecia acesa. Do outro lado, passavam homens transportando diversas coisas, mas como a parede ocultava o corpo dos homens, apenas os objetos que transportavam eram projetados em sombras e vistos pelos prisioneiros.

Certo dia, um dos prisioneiros conseguiu escapar das correntes e surpreendeu-se com a realidade que avistou.. A luz da fogueira, do sol e de tudo que as refletia ofuscava sua visão. O novo cenário agredia sua imaculada visão, sendo insuportável e, ao mesmo tempo, magnífico o que ele experienciava fora da caverna.

Nesse momento, em meio ao deslumbramento do novo mundo, um dilema o atravessou como um raio: podia voltar para a caverna e manter-se como havia se habituado há anos, ou esforçar-se por acostumar-se a nova realidade. Pode, ainda, caso escolha permanecer do lado de fora, voltar e libertar os seus companheiros, dizendo o que descobriu no exterior da caverna. Certamente não acreditariam em seu relato, pois a verdade para eles era aquilo que conseguiam perceber da sua vivência na caverna.

Um conflito se instalou em sua alma!


Na sociedade atual, algumas pessoas estão presas em “”cavernas tecnológicas”. Adquiridas com esforço do próprio trabalho, representam status social, na medida em que quanto mais cara essa caverna, maior a visibilidade desse preso perante os demais. Nessa versão hi-tech, as sombras são projetadas por outros homens, que também estão aprisionados. Os Likes são dados àqueles que projetam a melhor sombra para os demais. De cabeças baixas, a luz da realidade não machuca suas inocentes visões, que se habituaram a penumbra de uma realidade distorcida.

Essas sombras provêm dos mais íntimos e reprimidos desejos. Estes que estavam, outrora, inconscientizados, nesse momento tomam vazão e são projetados na realidade de cada um que os recebem e compartilham. Medo, ódio e destruição são sombras que estão saindo das profundezas de cada um desses prisioneiros. Se apresentam através de vídeos, notícias sensacionalistas, Fake News, Podcasts, Lives e outras formas de manifestação na sociedade de hoje.


A pandemia provocada pelo vírus COVID-19 age um catalizador de tudo isso. Há um aumento significativo na vazão dos conflitos que antes estavam “incubados” no inconsciente, demonstrando que a instância psíquica, o Ego (o Eu), que deveria administrar e equilibrar as demandas internas e externas, encontra-se fragilizado, sem forças suficientes para intermediar, por isso, está sucumbindo, sem saber o que fazer, se desesperando em verdadeiro pânico.


Uma visão míope está fadada a percepção tardia dos acontecimentos ao longe:

O que fez esses homens, de diferentes épocas, permanecerem acorrentados a esse muro de lamentações?

O que faz o homem da atualidade permanecer em trevas e escuridão, na ignorância de suas sombras, à margem do conhecimento sobre si mesmo?

Cabe a cada um estar disposto a quebrar suas próprias correntes, lidar com o dilema hodierno de voltar ou não para o mundo das sombras e superar a frustração que a luz da razão causa em sua pueril visão.


A psicanálise fomenta a libertação e o fortalecimento do indivíduo, ajudando-o a superar as frustrações que a luz da realidade causa devido as vistas cansadas da sociedade. Deixo um convite para você quebrar essas correntes e olhar a luz da realidade, deixando as sombras para trás.


Por A.R.Junior

Psicanalista






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