Este estado mental indica uma perda de contato com a realidade. A esquizofrenia é um estado psíquico caracterizado por alucinações, delírios, mudanças comportamentais e pensamento confuso.
Esses sintomas estão aliados a uma carência do espaço imaginário que leva a criança a não reconhecer o caráter estranho de seu comportamento.
Caso a criança permaneça assujeitada aos discursos dos pais, o discurso do mestre do espaço simbólico, que produz o gozo para o grande outro, ela não produzirá o gozo de ter o próprio gozo, o espaço imaginário, que tem seu início com a negação da lei no espaço simbólico.
A esquizofrenia é a resultante da ausência do discurso obsessivo real por parte da figura paterna ou por alguém que ocupe esse lugar. A falta do discurso que opera no tempo real (o discurso capitalista) e produz o discurso obsessivo real para a criança na fase de 6 aos 8 anos de idade a impede de querer contrapor a lei que produz gozo para o grande outro.
As estruturas psíquicas são formadas por matemas compostos por representações lógicas: os signos S1, S2, a, $. O funcionamento desses signos está amparado por um postulado fundamental, sendo que o lugar que eles ocupam no matema é que determina o modus operante da estrutura psíquica.
Foi Lacan quem organizou a formação dos matemas para expressar de forma lógica o modus operante das estruturas psíquicas, e isso dá ao analista a orientação no processo de análise do caso e no direcionamento do tratamento.
O processo de estruturação psíquica ocorre com a composição dos espaços simbólico, imaginário e real. O espaço simbólico é o espaço inconsciente, ou espaço de simbolização, e é ordenado pelo discurso do mestre (o matema do mestre), que institui o tempo parasimbolizar.
O agente do discurso significante mestre (S1)
vai ao produto o saber (S2) produzindo o mais-de-gozar (a),
que vai ao significante mestre (S1).
Como o espaço simbólico é dirigido pelo significante mestre (S1)do discurso do mestre (o matema do tempo simbólico) que institui a lei simbólica, acima da barra, o significante mestre (S1), a lei, vai ao saber (S2) mostrando que nesse tempo o importante é o saber (S2) simbolizar.
A verdade é o sujeito barrado ($) que vai ao saber (S2) e produz o mais-de-gozar (a) a produção, mostrando que o matema mestre simbólico tem a sua verdade, ou seja, que o sujeito barrado ($) vai ao saber (S2) e produz o gozo que se torna legal, pois o mais-de-gozar (a) vai ao significante mestre (S1), a lei.
A necessidade de se ter o espaço imaginário (a capacidade de analisar) inicia com o querer sair da cadeia do espaço simbólico. Entretanto, quando ambos os pais têm as estruturas psíquicas fundamentadas nos discursos universitário e histérico do espaço imaginário, eles incapacitam a criança da necessidade de constituir outra forma de estruturar-se que não seja a simbólica.
Alicerçada na dependência do gozo imaginário dos pais, a criança não tem o porquê (o produto) que provoque nela a necessidade de quebrar a cadeia das estruturas do espaço simbólico.
A lei real, o significante mestre (S1), produzido no tempo real, provoca na criança que se encontra com a estrutura psíquica histérica do espaço simbólico a necessidade da produção de uma outra forma de funcionamento que não necessite suportar a lei real dos pais.
A realidade psíquica da criança cria uma outra realidade psíquica a partir da realidade psíquica que ela já conhece e suporta nessa faixa etária de idade, o retorno ao discurso do analista.
O matema do analista é o tempo imaginário que a criança usa para iniciar o espaço imaginário (a) que é composto pelo matema histérico tem o início aos 6 anos e se estende até os 8 anos de idade e o centro o matema do mestre vai de 8 anos aos10 anos de idade, enquanto o matema universitário, que vai dos 10 anos aos 12 anos, quando se conclui apassagem do tempo imaginário ao espaço imaginário.
O espaço imaginário tem o iníciocom o matema universitário entre 10 anos e 12 anos de idade, ao centro o matema do mestre dos 12 anos aos 14 anos de idade e conclui com o matema histérico de 14 anos a 16 anos de idade.
O matema histérico tem o sujeito barrado ($) ocupando o lugar de agente do discurso que vai ao significante mestre (S1), a lei, que ocupa o lugar do produto e produz o saber (S2) que vai ao sujeito barrado ($).O saber (S2) vai ao sujeito barrado ($) produzindo a lei para o grande outro, a verdade do gozo histérico. A estrutura psíquica histérica faz a passagem de criança no processo da adolescência.
Através do processo de simbolizar, ela constitui o processo de analisar (o tempo de imaginação). Do matema histérico, a criança muda o processo de giro das estruturas psíquicas e, ao invés de seguir o curso e permanecer no processo de simbolização, ela retorna ao matema do analista criando uma outra forma de estruturação psíquica de fora para dentro, isto é, o oposto da forma do processo de simbolização. Isso provoca a mudança, a negação do modelo paterno da lei do grande outro que ela mantinha funcionando até então na sua forma de estruturar a sua psique.
Assim, de um tempo coordenado pelo saber simbolizar o saber dos pais, a criança passa para um tempo do saber analisar o saber dos pais.
O discurso obsessivo do tempo real produz a lei (S1), o significante mestre faltoso na relação pai e filha na fase de conclusão do espaço simbólico, quando a criança precisa ter esse algo que a convoque a se opor à lei paterna de simbolização. A lei causa a indisposição da criança com o lugar de obediência que ela ocupa, despertando-a para o querer sair da cadeia do espaço simbólico e a convocando a se enveredar no tempo imaginário, de forma a constituir o espaço imaginário. Todavia, para que isso aconteça, um dos pais precisa produzir a lei do discurso obsessivo real para que a criança use como produto o significante mestre( S1), que o matema histérico do espaço simbólico precisa para produzir um saber (S2) que vá a ela o sujeito barrado ($), o matema histérico do espaço simbólico. Dessa forma, destitui o mestre simbólico como agente do discurso e institui o mais-de-gozar (a) neste lugar, o gozo imaginário que ela conheceu, a maternidade como o mestre do seu tempo.
A saída do espaço simbólico ocorre quando a criança, concebida pelo matema do mestre simbólico, gira do matema do universitário para o matema do analista e depois para o matema histérico simbólico. Do matema histérico simbólico, a criança retorna ao matema do analista e constitui o tempo imaginário. Quando a criança chega ao discurso histérico simbólico, é tempo de ruptura com a lei do grande outro, momento de contestação da criança aos limites impostos pela lei paterna. O discurso de um dos pais precisa causar na criança o impacto necessário para que ela queira negar o mundo externo e queira criar ummundo interno, onde o gozo possa prevalecer sobre as leis paternas. Quando a criança apresenta o quadro de esquizofrenia segundo a análise das estruturas psíquicas é decorrente a ausência do discurso obsessivo real por parte de um dos pais, aquele discurso que impõe o tempo real na relação mãe e filha.
Ou a criança recebe a lei (S1) paterna de um dos pais para rejeitá-la e produzir a histeria simbólica quebrando a cadeia do espaço simbólico, ou ela retorna ao discurso do analista saindo da sequência da cadeia de repetição do espaço simbólico, ou ela segue e apresenta um segundo espaço simbólico que é denominado esquizofrenia. O retornar do matema histérico do espaço simbólico ao matema do analista é o início do tempo imaginário.
A criança conclui a estrutura psíquica simbólica ao rejeitar permanecer sobre a lei paterna, mas quando a lei paterna está faltosa no discurso dos pais, a criança não tem por que barrar a sequência simbólica. Com isso, ela institui um segundo espaço simbólico.
O espaço simbólico é a fase em que a criança está se externalizando. O processo de simbolização dos objetos é o momento de sair dos limites para conhecer o novo, mas os pais impõem os limites e com isso a criança choca com a lei paterna e assim ela concebe o querer sair do lugar de dependência paterna. No entanto, quando a criança não é capaz de impor o gozo próprio aos pais, o caminho encontrado por ela é a construção de um gozo a que apenas ela tem acesso, o gozo que se inicia com um tempo para a imaginação. A partir do tempo imaginário, a criança a constrói o espaço imaginário e se abstrai de viver segundo a lei do grande outro, instituindo o modo de estruturação psíquica que lhe dá o gozo interno, um espaço constituído a partir do mais-de-gozar (a), o matema do analista, que a criança recebeu da mãe no espaço simbólico e ao qual retorna sem a lei do tempo real.
No discurso histérico do espaço simbólico, o sujeito barrado ($), o ego, é o agente do discurso e a verdade é o mais-de-gozar (a), sendo que ambos vão ao significante mestre(S1), a lei, o produto, e produzem um saber (S2) que provém do mais-de-gozar (a) que é a verdade da criança na faixa etária de 6 aos 8 anos de idade, como apontado pelas setas do matema histérico. Um tempo que a lei provém da verdade do discurso histérico simbólico, o mais-de-gozar (a), o gozo, que ocupa o lugar da verdade histérica e passa a ocupar o lugar de agente do discurso do analista. A verdade histérica do espaço simbólico é a verdade histérica do tempo imaginário, já que é o matema histérico que faz a passagem do espaço simbólico ao espaço imaginário. E, naturalmente, a verdade histérica é que é o agente do discurso do discurso do analista. O primeiro matema do espaço imaginário, o discurso universitário, passa para o matema do mestre e conclui com o matema histérico, como mostra a sequência dos matemas do espaço imaginário. O primeiro discurso na fase de formação da criança é o discurso do mestre simbólico, que é o discurso dos pais para a filha, propiciando a criação do espaço simbólico para que a criança possa vir a ter o seu modo de simbolizar o mundo. O primeiro discurso na fase de formação do espaço imaginário é o matema do analista, onde o agente do discurso é o mais-de-gozar (a), para que a criança possa ter também a capacidade de analisar. No espaço imaginário, o princípio é o gozo que as coisas produzem para a adolescente e não mais o que elas significam. É o espaço onde a lei do saber perde o espaço para a lei gozo.
A esquizofrenia se torna visível quando a criança não faz o processo de retorno do matema histérico simbólico ao matema do analista no espaço simbólico e continua a sequência repetindo o processo de simbolização e, do matema histérico simbólico ao matema do mestre pois, sendo o discurso do mestre a sequência natural, se a lei nãoaparecer para a criança quando ela se encontra atuando no matema histérico do espaço simbólico, ela constitui a sequência do giro anti-horário e constitui outro espaço simbólico.
A formação de um segundo espaço simbólico é causada pela falta da lei do tempo real por parte de um dos pais que deixa a criança sem o produto de oposição essencial para que ela queira constituir as estruturas psíquicas do espaço imaginário. Sem a lei que a convoque a querer sair do espaço simbólico, a criança manifesta os sinais e sintomas da duplicidade do eu simbólico. A duplicidade dos espaços simbólicos causa a expulsão de ideias ou pensamentos próprios, os quais passam a ser tratados como estranhos ou não acontecidos. Como um efeito da duplicidade, ocorre a cisão do primeiro eu simbólico e do segundo eu simbólico, um que é reconhecido e outro que não é reconhecido como próprio.
Pela análise das estruturas psíquicas, percebe-se que a formação das estruturas psíquicas correspondem a um funcionamento psíquico que obedece a um princípio primordial, os opostos na constituição das estruturas psíquicas da mulher. O processo que deveria ocorrer dos 6 anos aos 8 anos de idade é o início do processo de instituir o espaço imaginário, mas a criança inicia o processo de instituir um outro espaço simbólico por falta da lei paterna. A criança precisa da lei paterna (o discurso obsessivo real), o significante mestre (S1), como produção do tempo real, quando está no discurso histérico do espaço simbólico, para barrar o gozo simbólico e gerar nela o querer construir um espaço onde o mais-de-gozar (a), o gozo, seja o agente iniciador de um outro espaço e não mais um espaço coordenado pelo significante mestre (S1), a lei de simbolização, que traz consigo a lei do tempo real. Isso porque a lei do tempo real é insuportável para a criança nessa faixa etária e a leva a criar um subterfúgio para lidar com esse real insuportável, o espaço imaginário.
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